444>24 Brasil: temas históricos e recorrentes, draft
70 anos da morte do maior de todos os presidentes brasileiros; por Paulo Nogueira Batista Jr. / "No campo econômico, Getúlio reagiu à Grande Depressão dos anos 1930 com uma política de intervenção econômica e defesa do preço do café, então nosso principal produto de exportação, o que permitiu suavizar e abreviar o impacto da crise internacional sobre a economia brasileira." / o Brasil de Getúlio deu partida à fase mais intensa de industrialização brasileira, com o centro dinâmico da economia se deslocando do setor agroexportador para o mercado interno, como destacou Furtado. / Em 1941, Getúlio cria a Companhia Siderúrgica Nacional, explorando a rivalidade entre o Terceiro Reich e os Estados Unidos, e conseguindo assim o apoio americano para o estabelecimento da empresa. / Em 1942, ele cria a Vale do Rio Doce, cujo primeiro presidente foi Israel Pinheiro, meu tio-avô e avô do economista André Lara Resende. / No seu segundo mandato, em 1952, Getúlio cria o BNDE (hoje BNDES). E a Petrobrás em 1953, sob forte resistência do capital estrangeiro e seus aliados domésticos. Só não conseguiu criar a Eletrobrás, que surgiria em 1961 com JK. / Mas não foi só no terreno econômico que Getúlio trouxe mudanças fundamentais. Foi ele que instituiu as leis trabalhistas, em 1934, prevendo direitos para os trabalhadores, como salário mínimo, jornada de oito horas, férias remuneradas e liberdade sindical. Foi no seu governo que se estabeleceu o voto da mulher, em 1932, realizando antiga reivindicação das lideranças femininas. / Não por acaso, Getúlio volta em 1951 à Presidência “nos braços do povo”, como ele diria na sua carta-testamento três anos depois. Não por acaso, as suas políticas suscitaram intensa hostilidade de grande parte, provavelmente da maior parte da retrógrada e predatória elite brasileira. / Getúlio saiu da vida para entrar na história, como disse na sua carta-testamento, documento que merece ser lido até hoje, pois expressa magistralmente as aspirações de desenvolvimento e justiça social que continuamos buscando.
Transições pelo alto, ou concertações entre frações burguesas, por Valério Arcary - "três peculiaridades políticas sejam: (a) o grau, absurdamente, grande de desigualdade social que persiste quase intacto; (b) a capacidade histórica da classe dominante de procurar soluções para os conflitos sociais e políticos pela via de concertações negociadas; (c) a existência de uma classe trabalhadora gigantesca, e de uma das esquerdas mais influentes no mundo. / A “excepcionalidade” brasileira resulta destas peculiaridades e resulta em um paradoxo: a desconcertante lentidão de qualquer transformação social que diminua a terrível injustiça que oprime a nação. O que prevaleceu no Brasil, ao longo de muitas gerações, foram as transições pelo alto, ou concertações entre frações burguesas." ... / embora o Brasil seja menos pobre e ignorante que há quarenta anos, não é menos injusto. O balanço histórico é devastador. O país mudou muito pouco. Tudo é dramaticamente, lento. Pior, aquilo que não avança, recua. Porque a direção lulista se deixou transformar em presa da operação Lava Jato, desmoralizou-se diante de parcelas grandes da classe trabalhadora e da juventude, e entregou as classes médias exasperadas (pelas denúncias de corrupção, pela inflação nos serviços, pelo aumento dos impostos, etc.) nas mãos do poder da Avenida Paulista, abrindo o caminho para um governo Temer ultrarreacionário. E depois Michel Temer entregou nas mãos da extrema direita e de Jair Bolsonaro. Não foi para isso que uma geração lutou tanto.
- o mal uso dos incentivos fiscais,
- o clientelismo corrupto,
- a manipulação estatística,
- a propaganda demagógica,
- a penúria renitente dos trabalhadores rurais e
- o uso despudorado dos sem-arrimo para a ocupação desastrada da Amazônia."
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