pouco
quase nada
lembro-me
de vivências de infância
foram mais memoráveis
os choques literários
começaram no
4° ano primário.
Uma professora
me apresentou a maravilha
das maravilhas: literatura.
Dois dias depois:
- "Mas é para ler o livro todo antes de trocar!"
[E a gargalhada foi geral].
- " Já li".
- "Não minta. É muito feio". E a gargalhada aumentou. "Silêncio". "Então o que acontece com o personagem principal?"
- "As crianças viajam para .... "
(E foi difícil começar,
mas depois engatei
o que hoje parece
uma eternidade falando.
A professora se assustava.
Deixei de ouvir as risadas de escárnio
quando olhei após minha fala
vi várias bocas a se retorcer
com olhos estranhos
a expressar algo pior
do que o prazer infantil
por outro ser a vítima do momento).
"Qual outro livro quer ler?" A estupefata professora perguntou
"Não faço ideia".
Eu disse,
do jeito de uma criança tímida,
mas não tanto diria:
"a história continua?"
O primeiro livro foi "A vaca voadora"; depois "Vaca na Selva";
e ... "volta ao mundo em 80 dias" e "viagem ao redor da ...",
E não consegui mais parar
por duas décadas,
até me formar
em letras.
Na década de 1980:
- livros da série vagalume
- aventuras de Julio Verne
- Ian Fleming
- Agatha Christie
- Stephen King
- John Le Carre
- etc;
Mas há outras estórias,
mas que são mais difíceis de me lembrar:
disputar "partida" no campo de terra
com bolas de meia com pano
pedras como traves
jogar bolinha-de-gude
futebol de botão
capotagem descendo ladeira
em carrinho de guia
bater figurinha,
mas só de jogadores
de países desconhecidos,
da copa do mundo de 82 e 86
nas visitas aos primos no gagé
pique-pega pique-esconde
pique-...
queimada
pif-paf e batalha
cabo de guerra
no sítio do vô Francisco
tentar andar a cavalo
contra as vontades
do tio zé
no são dimas
fazer cabana entre moitas
ao lado de um pasto
cheio de carrapatos
no inverno seco
antes da queimada
não lembro onde
pescar lambaris no corrêgo
colocá-los na caixa d'agua de amianto
pegar girinos no rischo
para levar para aula de ciências
hidratar semente de feijão no algodão
Vivencei essas e outras,
claro, como a maioria
das criança, acho,
crescidas nos anos 1980
Contudo,
da infância
quis esquecer-me
de várias lembranças
que teimam em restar
tantas majoritariamente traumáticas
o carrinho de controle remoto dos sonhos presenteado num dia e furtado no outro alvo preferencial na queimada por ser gordinho e lento o prêmio de letra mais bonita da sala, no 2° ano primário, que virou motivo de chacota e me levou a ter a pior letra do 3°
Não sei se me ajudou
ou se me atrapalhou
mascada mudança
de casa primeiro
de esolas depois
parece-me hoje
um constante
reiniciar
quando fiz uns 10 anos
em torno de 1984:
- mudamos do São Dimas para a Fonte Grande
Quinta mudança de casa em 10 anos CongonhasBarreiraSargentoDiasSãoDimasFonteGrande
quando me mudei
para a sete de setembro
perdi o pouco de independência
que tivera durante os anos no são dimas
- Será que minha mãe não me deixava mais sair para brincar na rua, pois não conhecia as mães dos outros meninos?
- O irmão 7 anos mais velho havia começado a trabalhar. Não iria mais admirar suas muitas invenções maravilhosas: camelões, tratores e caminhões de madeira, carrinhos de guia, ...;
- Outro irmão, 3 anos mais velho, quase sempre estudava no outro turno na Escola - não me lembro muito de brincarmos. Na infância, 3 anos tornam outra geração.
Contudo, a mudança fundamental parece-me hoje, principalmente, a mudança no 3° ano primário do grupinho para o Pacífico Vieira - que de Pacífico só tinha o nome: menos coleguismo; mais bullying; mais perseguições incompreensíveis; mais ... .
grupinho pacífico napoleão estadual monsa padres
6 trocas de escola
dos 6 aos quinze anos
cada uma mais traumática
do que a troca anterior
quanto mais próximo
da adolescência
mais difíceis
as adaptações
grupinho pacífico napoleão estadual monsa padres
Felizmente,
no 4° ano primário,
uma professora me apresentou
a maravilha das maravilhas
Ei, acho que já contei essa parte da estória.
Deixe-me ver.
Sim, já contei!
...
Então, retomo o fio:
ou pauso
melhor continuar outro dia
@vanres#1981
12102022 170323 30jan24 01feb24 24fev24
Nota: Informo aos leitores uma relembrança de aulas de poesia, ministradas por Cláudio Leitão, Sueli Quintana, Adelaine LaGuardia, Maria Angela, Eliana Tolentino. Ao reler o "poema", constato que o eu-lírico não corresponde ao autor, que de fato, já pereceu, na virada de 2021 para 2022.
Mas a primeira versão não é de outubro de 2022?
Sim!
Mas...
Mas muito de perlaboração poética de um eu-lírico em sua liricidade!!!
@canres2023
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